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Pomares de citros pedem cuidado redobrado em ano atípico

03 de agosto, 2021 - por FAESP/SENAR-SP

No interior de São Paulo não faltam pomares com ares perfumados pelo característico aroma de laranjas, limões e tangerinas. Dados de 2020 da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA-SP) mostram que o estado possui 465 mil hectares com pomares de citros, espalhados por 9.845 propriedades. Porém, os pomares não estão em seus melhores dias. A estiagem e as altas temperaturas vivenciadas no ano passado afetaram a safra colhida neste momento, e a perspectiva para a colheita do ano que vem também não é das mais animadoras. Agora, com o frio extremo que vem atingindo São Paulo, os produtores já reportam perdas médias de 10% a 20%.

“Já viemos de dois anos de restrição hídrica. O ano passado foi muito difícil e causou danos gigantescos à citricultura, principalmente a não irrigada. E mesmo o pomar irrigado teve estragos, porque as temperaturas extremamente elevadas comprometem a planta, com perdas de fruta, na florada e no pegamento. Tivemos temperaturas acima de 38 graus, que derrubaram muito frutos do pé. Associado à baixa umidade do ar, mesmo colocando água a produção é afetada”, observa Frauzo Ruiz Sanches, Coordenador Adjunto da Comissão de Citricultura da FAESP, pelo Sindicato Rural de Ibitinga. Segundo o Fundecitrus, cerca de um milhão de árvores morreram por conta do estresse hídrico, e a safra 2020/21 deve apresentar queda de 30,55% no volume em relação à safra anterior. A safra colhida no momento apresenta, além da perda de frutas, um menor peso por unidade.

Agora, os produtores enfrentam o problema das geadas. “A seca deste ano mal está na metade. E vai comprometer a safra seguinte, devido às geadas que tivemos. Foram duas seguidas em um prazo de 15 dias, somando quatro dias no total. Ou seja, as condições climáticas já foram difíceis no ano passado, que não teve frio, mas teve seca intensa, que afetou negativamente essa produção que está sendo colhida. E a safra seguinte, que vai começar agora a produção de flores, vai ser muito afetada, por causa da seca associada a baixas temperaturas e geadas”, aponta o agrônomo.

Preços e qualidade

A escassez de laranjas e afins no mercado choca-se com a alta demanda pelas frutas. A procura por frutas cítricas aumentou na pandemia de covid-19, em função da sua capacidade de fornecer vitamina C. Os preços tiveram leve alta, compensando os produtores que conseguiram colher. “No mercado de cítricos, ao contrário de outros onde houve disparo de preços, como o da carne, o valor subiu, mas não muito. No atual período, que vai até agosto, os produtores que possuem pomar irrigado estão conseguindo pegar melhores preços pela fruta”, conta Frauzo.

A demanda de varejo do Estado do Rio de Janeiro e do litoral paulista, além dos pedidos da indústria, seguram os preços em um patamar mais alto do que o normal. A qualidade dos frutos, no entanto, está aquém do que seria esperado. “As frutas são colhidas apesar de ainda não estarem prontas. Elas estão mais azedas, mais fortes, mas quem tem o pé está colhendo, porque não se encontram frutas maduras”, diz o coordenador do SENAR-SP. Além do sabor menos doce, as frutas cítricas estão menores e menos pesadas, características que impactam a indústria de sucos, que vão precisar de mais frutas para produzir.

Reagindo à incerteza

O produtor de citros deve se manter sempre atualizado para fazer frente aos revezes econômicos e climáticos que impactam o mercado. Cursos de tecnologia, gestão e de práticas de manejo são os melhores aliados de quem quer se prevenir contra perdas. “Sempre é importante o produtor se qualificar e para isso existem os cursos do SENAR-SP e outros órgãos. Treinamento e qualificação são fundamentais para que os produtores possam produzir mais, melhor e de forma mais eficiente. Seja do ponto de vista tecnológico, de novas práticas de manejo, ou do ponto de vista administrativo”, afirma Frauzo.

Os Sindicatos Rurais de Duartina e de São Carlos estão entre as entidades que em 2021 ofereceram treinamentos para os citricultores das respectivas regiões. As unidades ofereceram o curso “Laranjas: inspeção de pragas e doenças”, respectivamente em abril e junho. Treinamentos de caráter técnico são fundamentais para garantir o manejo adequado dos pomares. Há cerca de dez anos, por exemplo, os pomares da região de São Carlos e Araraquara foram surpreendidos por uma epidemia de greening, que evidenciou a necessidade do manejo constante das plantas.

Em Duartina, o coordenador Thiago Benicá explica que boa parte dos alunos são funcionários de propriedades, que trabalham na colheita de laranjas. As turmas de oito a dez alunos têm 32 horas de treinamento, ou quatro dias – desses, três são de aulas teóricas, e o último no campo. O treinamento realizado pelo Sindicato Rural de São Carlos em uma fazenda do município teve a mesma carga horária, e foi solicitado pela própria empresa. “É um treinamento muito importante, porque existe um momento específico para a aplicação dos produtos”, esclarece Cláudio di Salvo, coordenador do Sindicato.

Cursos de gestão também devem estar no radar do produtor, pois auxiliam a identificação dos melhores momentos de compra e venda e, no caso específico das frutas cítricas, no controle de frutos de caixa. “É preciso ir atrás de informação e pensar seu negócio de forma empresarial, com fluxo de caixa, compromissos fixos, pagamentos, despesas com financiamentos e defensivos organizados em planilha”, orienta Frauzo.

Do ponto de vista de manejo ambiental, a principal orientação do agrônomo é que os produtores de frutas cítricas busquem a irrigação dos pomares. “A cada ano temos mais períodos desequilibrados em termos de chuva, e a água é um diferencial. Ter irrigação na propriedade é fundamental. Isso, aliado a cursos de capacitação para tecnologias e novas práticas culturais, são fundamentais pra que o produtor possa produzir de forma mais econômica e eficiente”, diz.

A importância do Estado

Entre todos os tipos de citros do Estado de São Paulo, a cultura mais volumosa é a laranja. Dessa área, 395 mil hectares são ocupados por laranjais, com produção anual de 350 milhões de caixas da fruta. O consumo interno fica entre 50 e 100 milhões de caixas, e o restante é destinado ao mercado externo. Isso tudo com boa produtividade. Segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), nos últimos 30 anos a produtividade dos pomares de laranja subiu de 13,75 toneladas por hectare para uma média de 42,64 toneladas por hectare, alta de 210%. Tal produção coloca o estado no centro do universo do citros: São Paulo é responsável por 76% da produção brasileira de frutas cítricas e 34% da produção mundial de laranja, gerando 200 mil empregos diretos e indiretos.

Frauzo Ruiz Sanches conta que as principais áreas produtoras estão bem espalhadas pelo estado. As regiões sudoeste, ao redor de Itapetininga e Botucatu, e noroeste, no entorno de Jales, se destacam pela produção de diferentes variedades de laranja. Além dessas duas áreas, a região que engloba os municípios de Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Casa Branca e Aguaí também está entre os principais polos produtores de cítricos do estado, incluindo a tangerina. Já Itajobi e seu entorno se destacam pela produção de limão, tanto para exportação quanto mercado interno.

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